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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Entrega

Eu não deveria deixar-me levar pela atmosfera desconhecida que nos envolve, por esse teu jeito de quem acabou de chegar e quer fazer-se íntimo. Tu sabes bem conquistar intimidades... Eu não deveria perder-me nesse teu olhar sempre tão convidativo, que paira sobre o meu com ar de quem consegue desvendar minha alma. Deveria parar de atentar-me ao teu sorriso despretensioso, de pegar emprestado um pouco da tua calma tão genuína e de querer fazer dos teus braços meu repouso preferido. Eu não deveria, mas me vejo aqui, pensando sobre teu jeito singular de se expressar, sobre tuas palavras descontextualizadas que fazem todo sentido, tua vontade de conciliar nossas rotinas, e percebo-me querendo ser totalmente tua, embora não devesse. Meu coração anda aflito e nervoso, remoendo traumas passados que deveriam fazer com que eu desconfiasse de qualquer um que disfarçasse intenções comigo. Mas tu, com tua falta de pressa, por ter certeza que podes fazer dar certo, me fazes acreditar que  tens segundas, terceiras e quartas intenções, só que todas sinceras e compatíveis com as minhas. Tu não deverias, mas compreendes todas minhas complicações, me põe no colo e sussurra que vais cuidar de mim, que é só eu deixar-me entregar. Tu não deverias ter tocado-me com tanto carinho, despindo-me com tanta pureza, embora fosse visível teu desejo. Tu não deverias ter demonstrado tantas boas razões para permanecer ali contigo, porque embora tu só me transmitas paz, se eu ousar libertar meu coração, minha paz será totalmente tua.


Por Gabriela Serra 

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