Na testa dele eu lia “cuidado, frágil” e
no meu coração ele achou um prazo de validade vencido.
Nós não fomos feitos para durar e, mesmo assim,
entramos no mercado e compramos escovas de dentes para colocarmos no pote do
banheiro.
Ele trouxe um pijama para o meu armário e eu levei
uma calcinha para a gaveta dele.
Nós sabíamos que não ia durar.
E mesmo sabendo que não ia durar, nós vestimos
nossas meias e preparamos omelete às duas da madrugada. Nós inventamos apelidos
um para o outro e nomes para os filhos que não teríamos. Nós contamos as moedas
do bolso e corremos de mãos dadas até a padaria. Nós dividimos a conta do
jantar e a fronha de travesseiro.
Nós sentíamos que não ia durar, então nos
abraçávamos apertado durante a madrugada e nos beijávamos de língua antes de
escovarmos os dentes. Combinamos de olhar para os olhos um do outro ao invés
dos ponteiros do relógio.
Nós tínhamos certeza de que não tínhamos sido
feitos para durar, mas também tínhamos certeza de que tínhamos sido feitos para
sermos felizes.
E isso nós fomos.
Até o dia em que não duramos mais.
Afinal das contas, ele era frágil e meu coração já
tinha passado do prazo.
Duramos mais do que casais que prometeram a
eternidade.
(Natália Nodari)
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